A universalidade da salvação. Uma esperança incondicional” foi o tema da terceira e última pregação do Advento no Vaticano nesta sexta-feira, 19. O Papa Leão XIV e seus colaboradores da Cúria Romana acompanharam a meditação do pregador da Casa Pontifícia, padre Roberto Pasolini, na Sala Paulo VI.
A vinda de Jesus Cristo deve ser reconhecida como uma luz a ser acolhida, expandida e oferecida ao mundo, explicou padre Pasolini. Ele propôs uma reflexão sobre a manifestação universal da salvação, sobre Cristo, a verdadeira luz, que é capaz de iluminar, esclarecer e orientar toda a complexidade da experiência humana. Uma luz que é necessária e bonita, mas também exigente: desmascara ficções e obriga a reconhecer o que se preferia não ver.
Para acolher a luz da Encarnação, segundo o religioso, não é preciso já ser bom ou perfeito, mas começar a tornar a verdade uma realidade na própria vida. É preciso, acrescentou, parar de se esconder e aceitar ser visto por quem se é, porque “Deus está mais interessado em nossa verdade do que na bondade de fachada”.
Igreja, comunidade que vive a luz de Cristo
Para a Igreja, isso significa iniciar um caminho de maior verdade. E isto não significa exibir uma pureza moral ou reivindicar uma coerência impecável, mas sim apresentar-se com sinceridade e reconhecer resistências e a fragilidades.
Os Reis Magos demonstraram uma maneira singular de serem verdadeiros ao trilharem o caminho do Senhor, explicou o religioso. Eles partiram de longe, mostrando que para acolher a luz do Natal, é necessário um certo distanciamento, para enxergar melhor as coisas: com um olhar mais livre, mais profundo, mais capaz de surpreender.
Em vez disso, o hábito de “olhar a realidade de perto demais” nos torna “prisioneiros de julgamentos previsíveis e interpretações excessivamente consolidadas”. Isso acontece também com aqueles que vivem permanentemente no centro da vida eclesial, observou Pasolini: “a familiaridade cotidiana com funções, estruturas, decisões e emergências pode, com o tempo, estreitar o olhar”. O risco disso é não reconhecer “os novos sinais pelos quais Deus se faz presente na vida do mundo”.
Os caminhos inesperados de Deus
Se o Natal celebra a entrada da luz no mundo, a Epifania destaca que essa luz não se impõe, mas se deixa reconhecer, é uma presença que se oferece a quem está disposto a se mover.
Padre Pasolini explicou que nem todos a veem da mesma maneira e a reconhecem ao mesmo tempo, porque a luz de Cristo se deixa encontrar por quem aceita sair de si mesmo, quem se coloca a caminho. Isso também é verdade para o caminho da Igreja, já que nem tudo o que é verdadeiro se mostra imediatamente claro. E, às vezes, a verdade exige ser seguida mesmo antes de ser plenamente compreendida.
A verdadeira luz do Natal
Um último aspecto sobre o qual o pregador da Casa Pontifícia convidou a refletir foi que se Deus escolheu habitar a carne humana, então cada vida humana carrega em si uma luz, uma vocação, um valor que não pode ser apagado. E isso mostra que a vida neste mundo não é apenas “sobrevivência”, mas acesso a uma vida maior: a de filhos de Deus.
Assim, a tarefa da Igreja é oferecer a luz de Cristo ao mundo, concluiu padre Pasolini. Não como algo a impor ou defender, mas como uma presença a oferecer, deixando que todos se aproximem. Portanto, sob essa perspectiva, a missão não consiste em forçar o encontro, mas em torná-lo possível.
“Uma Igreja que oferece a presença de Cristo a todos não se apropria de sua luz, mas a reflete. Não se coloca no centro para dominar, mas para atrair”, observou. Assim, torna-se um espaço de encontro, onde cada pessoa pode reconhecer Cristo e, diante dele, redescobrir o sentido de sua vida. “A verdadeira luz do Natal ‘ilumina cada homem’ precisamente porque é capaz de revelar a cada um a própria verdade, a própria vocação, a própria semelhança com Deus”.
