Em mensagem enviada à 44ª Conferência da FAO, Leão XIV critica o uso da fome como arma de guerra e convoca a comunidade internacional a agir com coragem no combate à fome no mundo.
O Papa Leão XIV se dirigiu pela primeira vez desde o início de pontificado aos participantes da 44ª Sessão da Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que aconteceu esta semana em Roma, na Itália.
Em mensagem enviada ao congresso, o Santo Padre foi enfático ao cobrar ações práticas e concretas no combate à fome em todo o globo:
“A tragédia persistente da fome e da má nutrição, que ainda afeta muitos países atualmente, é ainda mais triste e vergonhosa quando nos damos conta de que, embora a Terra tenha capacidade para produzir alimentos suficientes para todos os seres humanos, tantos pobres no mundo continuam sem o pão nosso de cada dia.”, disse em trecho do documento.
Na mensagem dirigida ao Diretor-Geral da FAO, Qu Dongyu, e às delegações presentes, Leão XIV manifesta profunda preocupação com o agravamento da insegurança alimentar no mundo e alerta que “a segurança alimentar global continua a se deteriorar, tornando cada vez mais improvável o alcance do objetivo de ‘Fome Zero’ da Agenda 2030”.
Entre os trechos mais contundentes da carta, o Papa denuncia o uso crescente da fome como instrumento de guerra: “Matar de fome a população é uma forma muito barata de fazer guerra”, afirma.
Ele acrescenta: “Hoje, quando a maioria dos conflitos não é travada por exércitos regulares, mas por grupos de civis armados com poucos recursos, queimar plantações, roubar gado, bloquear a ajuda humanitária são táticas cada vez mais utilizadas por aqueles que pretendem controlar populações inteiras e indefesas.”.
Leão XIV também alertou que já é passada a hora de abandonar promessas vazias e deixar a “era dos slogans” para trás.
“Adiar uma solução para esse cenário dilacerante não ajudará; ao contrário, as angústias e os sofrimentos dos necessitados continuarão a se acumular. Portanto, é imperativo passar das palavras às ações, encerrando de vez a era dos slogans e das promessas enganadoras.”, disse o Santo Padre em outro trecho.
O Papa levantou ainda a urgência em se tomar atitudes efetivas para que as próximas gerações não sejam prejudicadas. “Mais cedo ou mais tarde, teremos que prestar contas às futuras gerações, que herdarão uma carga de injustiças e desigualdades se não agirmos agora com sensatez.”, enfatizou.
Ao abordar a estreita relação entre crise climática, sistemas alimentares e desigualdade social, o Pontífice explica que “os sistemas alimentares têm grande influência sobre as mudanças climáticas - e vice-versa”.
O Papa propõe um modelo de desenvolvimento que una ecologia integral e justiça social: “Não basta produzir alimentos; também é fundamental garantir que os sistemas alimentares sejam sustentáveis e proporcionem dietas saudáveis e acessíveis para todos.”.
Leão XIV voltou a criticar duramente as guerras que assolam o mundo, e fez um paralelo da fome com a contradição ética que permeia o cenário atual: “Recursos financeiros e tecnologias inovadoras, que deveriam ser destinados à erradicação da pobreza e da fome no mundo, são desviados para a fabricação e o comércio de armas.”, diz trecho da mensagem.
A mensagem conclui com um apelo à comunidade internacional: “Jamais foi tão urgente como agora que nos tornemos artesãos da paz, trabalhando para isso em prol do bem comum — do que beneficia a todos e não apenas a alguns poucos, que, aliás, são quase sempre os mesmos.”.
Com esperança e fé, Leão XIV invoca a bênção de Deus sobre os trabalhos da FAO, “para que sejam plenamente frutíferos e revertam em benefício dos desvalidos e de toda a humanidade”.
Fonte: Vatican News